"A linguagem = nem sei se eu a tenho ou se ela me controla. Sinto agonia tem vezes. Quero dizer, rrrr, mas não consigo, não sai, não corresponde ao que imaginei. Luto com as palavras. Sempre. Eu volto. Tento apagar, passar uma borracha mental naquilo que saiu estorvado. Gosto de expressar, de ser exata, de desenhar com letras e de te dar uma imagem do meu coração. Sem romancear. Só para dizer. Dizer. Libertário. Quero falar mais e tu queres me ouvir. Alcancei teu coração com essas palavras meigas que bolei, arquitetei no cantinho do meu quarto. Eu invento, baby. Faço um fingere do real das minhas emoções pra você ler. Finjo, mas não minto, sacas? Amo-te assim como existo, relação de conformidade, causalidade, consequência, temporalidade, condicionalidade, ou seja, tudo que as adverbiais me permitem. Você está entendendo? Meu amor é daqueles que me obriga a dizer, amo assim, com palavras calculadamente pronunciadas, pra te agradar. Uma linguagem facista que obriga a dizer, (como ensina Barthes) assim como um amor facista que não me deixa opção além de te amar e de te querer. Vês? Não queria romancear. Mas não me restam alternativas. Sou obrigada a dizer. a amar. a fingir, poeticamente, claro. Obriga-me a tua leitura a acabar isso aqui com um final legal, mas ele não há. Nem a leitura há, afinal. Oras, só estou pensando! E outra, já chegou o ponto. Vou descer do ônibus."
"A língua, como performance da linguagem, não é nem reacionária nem progressista; ela é simplesmente fascista; porque o fascismo, não é impedir de dizer, é obrigar a dizer"Leçon inaugurale au Collège de France, 1977