quarta-feira, março 18, 2009

Persuasion, de Jane Austen


Qualquer um que passe por esse blog, ou qualquer outro blog, não pode ser assim tão avesso à leitura. "Ler" gera "escrever", que gera "comentar", "pensar", "discutir", e a lista fica longa. Eu não leio tanto quanto gostaria, por conta dos mil afazeres que me ocupam todos os dias, todos mesmo. Contudo, nos últimos dias, na medida do possível, claro, fiz-me de desentendida com algumas coisas (shame on me!) e me permite deliciar-me com as palavras de Jane Austen. Tirei Persuasion do armário e experimentei novamente a sensação de estar presa, acorrentada a um livro.

Fazia tempo que não vivia algo assim, porque quando eu não acerto o livro, a leitura fica chata e é finalmente somada à lista de livros que eu só li um capítulo ou dois. Persuasion, no entanto, consumiu as energias, o tempo e o esforço, mas valeu à pena cada "centavo", rs. A história trata do relacionamento entre Anne Eliot e Captain Wentworth, que depois de um rompimento oito anos atrás, tem a oportunidade de estarem juntos novamente, é delicioso o progresso dos eventos e tudo mais.

De tudo o que me chamou a atenção no livro, quero ressaltar o fato de que me parece que Austen celebra o bem em sua narrativa. Quando eu falo de celebra o bem, eu estou tratando do fato de que ali me parece clara a distinção entre certo e errado, entre bem e mal. Os personagens que agem em benefício próprio, baseados no egoísmo e perspicácia não ficam sem receber certa palavra de desapreço pelo narrador. Chame de moralismo se quiser. Eu gosto. Me cansa esse relativismo todo, quando dizem: depende do ponto de vista, depende das razões, depende, depende. Vou dizer uma coisa, não depende não. Se você ferir alguém, vai machucar, vai doer. Se você usar uma pessoa, ou as emoções dela só para satisfazer seu ego falido e corrompido, a pessoa sofrerá no final. O problema é que ninguém pesa as consequências, ninguém pensa que o que eles fazem com os outros pode voltar para eles mesmos.

Voltando ao livro, me encanta ver que para algum escritor nessa literatura do mundo, o bem já interessou. O bem, a pureza, coisas assim elevadas. Muitos clássicos celebram o suicídio, a revolta contra os pais, a traição, a ganância, o ocultismo, como se ninguém mais pudesse ser diferente. Seria bom se alguém usasse de sua habilidade de escrita para celebrar as características em nós que nos aproximam do Criador, e o efeito que se produz quando alguma de suas criaturas se aproxima dele com coração sincero e quebrantado. E tenho dito!

sexta-feira, março 06, 2009

A. & B.

o que a distinguia das demais era sua força interior. nunca fora escrava de suas circunstâncias, mas, pelo contrário, armava-se de uma coragem que não se sabia de onde vinha, e encarava os fatos. nessa manhã, olhou o rapaz nos olhos enquanto o bombardeava com seus pensamentos. chamou-o de rude, de insensível, disparou todo o seu arsenal de maus adjetivos, seriam mesmo maus, ou apenas o reflexo de alguns meses maus experimentados? chegando ao fim, notou que em seu rosto, no de A., quase não havia expressão, havia algum descontentamento, mas nenhum sinal aparente de contrariedade. tentou fazer com que ele reagisse, mas ele nada dizia. deu uns passos para trás na tentativa de que, achando que ela partiria, ele fizesse alguma coisa. deu certo. ele estendeu a mão, tentando impedi-la. reconciliação. a mão suspensa no ar indicava que ele tinha esperança, nunca tal gesto disse tanto a B. ela aguardou. a face antes inexpressiva deixou mostrar sinais de comoção. uma lágrima. a partir daí, palavras. muitas. corridas. tensas. a partir daí, razões. muitas. coerentes. seu coração encontrando o meu, ele dizia. mas eu não sei dizer, nunca soube, ele anunciou. ela entendeu, como eu e você entenderíamos, que só se tratava de perspectiva, não era rude, não era insensível, mas não era assim que ele sabia amar. não com as palavras. através delas agora, num esforço incrível, ele tentava reaver o tempo perdido, reparar o mal instaurado. nunca esteve tão certo de alguma coisa, nunca fora tão convicto de que B. era sua. e se não conseguisse provar, e se não conseguisse fazê-la sentir o mesmo? o coração batia forte. B. ouvia atenta como se decorando o rapaz. Era a primeira vez que o via assim, vulnerável, tão dela, tão entregue. um aguardava o outro, um esperava que o outro fosse ou desse um pouco mais. nos instantes que se seguiram, sorriram um pouco, falaram um pouco e de novo sentiram paz;